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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Por uma globalização diferente

Entrevista do IHU On line (18-02-2010)  com Attilio  Hartmann, jesuita e jornalista, coordenador de comunicação do Mutirão de Comunicação, em fevereiro de 2010

IHU On-Line – Um dos objetivos do mutirão era debater a questão da cultura solidária. Quais as principais reflexões sobre uma nova  cidadania comunicacional foram realizadas durante o evento?

Attilio Hartmann –
A teimosa e reiterada afirmação da necessidade de se criarem condições para uma cultura solidária não foi tema, apenas, de um ou outro seminário, mas perpassou transversalmente todas as atividades do Mutirão.

Neste sentido, o
Mutirão pensa ter contribuído para o que se pode chamar “cidadania comunicacional”, construída a partir de uma geral convicção, consciente ou inconsciente: ou a solidariedade se torna o novo nome das relações entre as pessoas, na sociedade e entre os povos, ou o nosso habitat, o planeta Terra e, claro, a sociedade humana, não tem futuro. Assim, a utopia da globalização da solidariedade viveu mais um round e num meio onde nem sempre se reflete seriamente este tema.

É sabido que uma globalização sem solidariedade afeta, negativamente, os
setores mais pobres. Já não se trata, simplesmente, do fenômeno da exploração e da opressão, mas de algo novo: a exclusão social. Com ela fica afetada a própria raiz da pertença à sociedade na qual se vive, pois a pessoa excluída já não está abaixo, na periferia, mas está fora.

Os excluídos não são somente “explorados”, mas “sobrantes” e, por isso, “descartáveis”. Diante desta forma de globalização, o Mutirão quis contribuir para uma globalização diferente que esteja marcada pela solidariedade, pela justiça e pelo respeito aos
direitos humanos.

IHU On-Line – Durante a segunda conferência deste Mutirão da Comunicação, houve uma reflexão sobre as diferentes práticas de comunicação que existem, sejam elas populares ou feitas nos centros de pesquisa. Como isto está contribuindo para que tenhamos uma outra ideia de comunicação?

Attilio Hartmann –
Comunicação não é mais “coisa de jornalista”. E o Mutirão quis exatamente contribuir para este novo conceito e prática de comunicação, especialmente dentro da instâncias eclesiais. Comunicação é processo, é políticas, é pesquisa, é diálogo e é, também, mídias. Assim, diante do avanço espetacular das novas tecnologias da informação e da comunicação, o desenvolvimento de novos códigos e linguagens e a importância, cada vez mais valorizada, dos espaços de diálogo e debate, a comunicação se converteu em um elemento fundamental no processo de mudança de mentalidades. A comunicação, livre, democrática, participativa é garantia para a governabilidade, fator de entendimento e de respeito entre as pessoas, instrumento para expor propostas, partilhar conhecimentos, apresentar dúvidas, aprender e ensinar. Numa palavra, a comunicação se converte na marca característica de cidadania, do ser humano e de todo o espaço democrático e respeitoso dos demais.

Por isso, é extremamente importante que os profissionais da comunicação, as lideranças sociais, políticas e comunitárias, que têm a responsabilidade de promover uma nova cultura, a cultura da solidariedade, analisem estes novos desafios e construam coletivamente propostas que facilitem uma comunicação capaz de ajudar a construir sociedades mais democráticas e, se mais democráticas, mais justas e, se mais justas, mais humanas para todos. Este é o desafio para todas as formas de comunicação, desde as modestas mídias populares até as grandes redes nacionais e internacionais. E aqui ganham maior importância os centros de pesquisa, como espaço/lugar para sistematizar a comunicação para que já não seja apenas uma comunicação de consumo, mas uma comunicação de sentido